Linha do horizonte
Vou partir
antes do tempo de ser poeta.
A sombra
das pálpebras escondida entre a mágoa e a dor
já não
resiste ao contorno de qualquer verso.
Fora
deusa, condensada entre fios de neblina
que perpassam
um qualquer passo na rua.
Das linhas
que produzem as searas trouxe o ouro
e das
rugas esmagadas pelo negrume
o testemunho
que a vida concede aos crentes.
Não!
Não quero ventres escondidos de prazer
nem
gestos degolados das partituras musicais.
Não me
tragam palavras ocas, prenhas de oceanos
nem pátrias
onde se falam todas as línguas.
Quero
um farol erguido no alto de um promontório
quero
um grito esventrado nesta alma inquietada
quero
a fome das letras que me ocupa a memória
quero
o timbre desalinhado dum prólogo por escrever.
Do resto
do mundo, quero a quietude
os dedos
ásperos da verdade e da consciência
quero
a exactidão
quero
a reminiscência
quero
a vida na proporção exacta de todas as coisas.
E na
sombra das pálpebras quero o horizonte
o contorno
da resistência de um qualquer verso
para
lá da linha que um qualquer poeta possa escrever.
ana
paula lavado ©