quarta-feira, 29 de agosto de 2012

SEI QUE TE TEREI


Sei que te terei

Sei que te terei.

Os dias iluminam-se à tua forma
sublimando os pensamentos
à distância do nano fragmento
que nos separa.
És tu quem me aperta as mãos
e me leva sem destino calculado
nos percursos mais incólumes dos sentidos.

Sei que te terei,

quando arderem todas as árvores que me alimentam
e todas as montanhas se despojarem do seu perfume,

sei que te terei.

E no meu ventre vazio guardo-te em segredo
e escuso-me no degredo
para te amar silenciosamente.
Não, não escondo que te amo
Mas gosto de o fazer silente.

Sei que te terei,

depois de cumprir todos os passos da predestinação
elevando os silêncios das nossas conversas
fragmentadas pelas intromissões da dolência,
imiscuída sem anuência.

Sei que te terei,

na vontade gasta do teu afastamento
calculado prematuramente
como uma gestação inacabada.
Não, não me falta nada
Apenas a luz imprópria dos dias em que não sinto
a voz magra da tua quietude
me inquieta.
Substituo-te nos versos
escolhidos ao acaso nas linhas brancas
de um qualquer papel amarelecido,
pálido de solidão.

Sei que te terei.

E quando nos sentarmos lado a lado,
de mãos dadas como antigamente,
os silêncios entrelaçar-se-ão
porque já não necessitamos de palavras.
Não porque as tenhamos dito todas,
mas porque nos temos silenciosamente.

Sei que te terei.

(Ao primeiro homem que amei. Meu Avô)

ana paula lavado ©

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

JASMINS



Jasmins

Penso como as flores murcham
sem alimento.
Talvez um dia
as possa alimentar de seiva
e elas permaneçam perenes.
Cansa-me a efemeridade
das coisas alheias
que não necessitam de acolhimento
permanecendo inertes à vontade.
E rasgo as veias
como se da minha loucura nascessem jasmins
intransmutáveis ao pensamento.
Tal como a névoa que se esfuma
enegrecem-se as estrelas
perecendo mais distantes que nunca.
Na noite escura
morrem as letras
nas palavras escritas sem paixão.

ana paula lavado ©


 (foto retirada da internet)

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

ESSE MAR ÉS TU!




Esse mar és tu!

Esse mar que divaga silencioso
Que marulha vago em noites de calmaria
Que ousa quem o afronta orgulhoso
Que amorna toda a dor de agonia,

Esse mar que revira trevas num repente
Que mordaz destrói quem se atreve
Que engole qualquer injúria argutamente
Que desvia qualquer rota que alguém teve,

Esse mar tão sublime e tão feroz
Que me ocupa a alma de indecência
Que me fustiga e me observa, atroz
E me ama para além da inclemência.


ana paula lavado ©


 (foto retirada da internet)

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

NAS MINHAS NOITES

Nas minhas noites


Nas minhas noites
guardo vidros escuros
sem luz.


A Terra afunda-se em bruma
e a bruma afunda-se em mim.


Demora-se a madrugada
dos homens
e das coisas.


E então tu surges
plácido e pleno
como o sol da manhã.


E os ruídos da noite
Calam-se silenciosamente!


ana paula lavado ©

(foto retirada da internet)