quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

LINHA DO HORIZONTE



Linha do horizonte

Vou partir antes do tempo de ser poeta.
A sombra das pálpebras escondida entre a mágoa e a dor
já não resiste ao contorno de qualquer verso.
Fora deusa, condensada entre fios de neblina
que perpassam um qualquer passo na rua.
Das linhas que produzem as searas trouxe o ouro
e das rugas esmagadas pelo negrume
o testemunho que a vida concede aos crentes.

Não! Não quero ventres escondidos de prazer
nem gestos degolados das partituras musicais.
Não me tragam palavras ocas, prenhas de oceanos
nem pátrias onde se falam todas as línguas.
Quero um farol erguido no alto de um promontório
quero um grito esventrado nesta alma inquietada
quero a fome das letras que me ocupa a memória
quero o timbre desalinhado dum prólogo por escrever.

Do resto do mundo, quero a quietude
os dedos ásperos da verdade e da consciência
quero a exactidão
quero a reminiscência
quero a vida na proporção exacta de todas as coisas.
E na sombra das pálpebras quero o horizonte
o contorno da resistência de um qualquer verso
para lá da linha que um qualquer poeta possa escrever.

ana paula lavado © 

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