quinta-feira, 24 de setembro de 2015

VENDAI-ME OS OLHOS



Vendai-me os olhos

Deitei a terra ao chão
nas raízes que o orvalho prolongou.

E na sombra escura
crescem álamos selvagens
sedentos de justeza,

mas a chuva sonâmbula
seca prematuramente
a hora tardia.

Vendai-me os olhos
que não verei a morte.

ana paula lavado©



segunda-feira, 14 de setembro de 2015

FAZ UM POEMA OUTRA VEZ



Faz um poema outra vez

Despe todas as palavras
como um vestido de linho

desnuda letra a letra
no silêncio do caminho

desflora o restante
numa alma de nudez

junta as letras já desnudas
e faz um poema outra vez.

ana paula lavado © 


quarta-feira, 9 de setembro de 2015

DEIXA O MEU CORPO MORAR NO TEU CORPO



Deixa o meu corpo morar no teu corpo

Deixa o meu corpo morar no teu corpo
como um pássaro de asas soltas
no alto dos montes.

Dá-me um rio,
nascido das tuas fontes,
com margens inquietas
e rumores tardios.

Estreita-me a saudade
no maior dos desvarios
e dissipa a ausência das noites
quando as noites não têm virtude.

Dá-me a tua mão,
somente a tua mão desnuda,
o silêncio da tua voz muda,
e a calma dos teus olhos prudentes.

Serei corpo alvo dos teus anseios,
travo doce na calma meus seios,
o amanhecer no tempo dos ausentes.


ana paula lavado ©