segunda-feira, 23 de junho de 2014

À LUZ DAS COISAS



À luz das coisas

Levante-se o sol. E em todos
os momentos desarmem-me os braços
à luz das coisas. Voo num qualquer
pedaço de limbo, e o orvalho
enxágua-me a face das cores da noite.
A minha figura transcende-se do real e do
imaginário, prolongando os tempos em similitudes
impendentes de repetições. Enquanto tu vieres,
ocultarei as minhas fraquezas mais profundas
dentro de um ventre irreal. Sem que me digas
se ficas, ter-te-ei a todas as horas, sublimando
o útero dos seres etéreos.  
                       

ana paula lavado  ©

quarta-feira, 18 de junho de 2014

ANTES QUE A VIDA LEVE TUDO



Antes que a vida leve tudo

no reflexo dos espelhos
a invenção mais clara
é a nudez suave da pele

é com ela que adormeço

antes que o sono me leve
antes do sonho ter começo

estendo a mão nos lençóis
enrugados de corpos amantes
se a noite se for antes da hora

é com ela que me desnudo

antes que a noite me dissolva
antes que a vida leve tudo.


ana paula lavado © 

Fotografia - Francisco Navarro 

quinta-feira, 5 de junho de 2014

DÁ-ME O DESTINO



Dá-me o destino

Dá-me o destino, mesmo que a urgência
faça do insólito uma ave madura.
Quanto mais o tempo dura
mais o agreste cresce nos campos
mais os poentes se tornam amplos
mais as crenças descrençam a fé.
Nem o abismo, no seu sopé
é tão distante como o fim da tormenta.
Ó vigilante da vida, tenta, pelo menos tenta
que o infinito fique mais perto
que todas as areias do deserto
se imensem em águas transparentes.
O mundo apeja-se dos descrentes
e os montes acobardam-se das tempestades.
Em toda a vida e em todas as idades
há um sol a crescer por dentro
um lugar oblíquo e sem centro
onde gira a nossa sucessão.
Leva-me contigo, pega na minha mão
e afasta-me do lugar dos ausentes
liberta-me das crenças descrentes
e dá-me o destino por condição.


ana paula lavado © 

Fotografia - Francisco Navarro

terça-feira, 3 de junho de 2014

FAZ DE TI A MINHA HISTÓRIA



Faz de ti a minha história

Leva-me de volta à vida
desenlaça-me o movimento
move cada urze que passa
guia cada fantasma de vento.

Escreve o meu nome na estrada
alonga-me em lençóis de linho
descobre o fogo do mundo
solta os passos do meu caminho.

Faz cantigas com os astros
ilumina os meus segredos
abre as janelas fechadas
faz histórias dos meus dedos.

Leva-me de volta à vida
ao cume extremo da memória
tange o meu corpo no teu corpo
e faz de ti a minha história.

ana paula lavado © 


Fotografia - Francisco Navarro