terça-feira, 30 de junho de 2009

A VERDADE DA MENTIRA


Como é espantosa a mente humana

capaz de grandes feitos e invenções

deste o fogo à penicilina

do LSD, à estricnina

até à bomba de neutrões!


Até houve quem inventasse o sol

a chuva, o raio e o trovão

o mar, os rios e as cores

a terra, as plantas e as flores

e ainda a polinização!


Tudo se inventa, tudo se transforma

nem a verdade foge ao achamento.

Aos gestos moldam-se os tons

às letras alteram-se os sons

e temos a mentira como invento!


apl in “Mentes Perversas” ©


sexta-feira, 26 de junho de 2009

A PORTA DA RUA


Ontem empurrei a porta da rua

com mais força do que o costume

e com ela empurrei a minha ira também.

Não sei se é costume

as outras pessoas empurrarem a porta da rua

quando querem empurrar a ira também.

Mas eu empurrei a porta da rua

e empurrei a minha ira também.


Amanhã não vou abrir a porta da rua.

E depois de amanhã

não vou abrir a porta da rua também.

Vão ficar as duas do lado de fora

vão ficar as duas do lado da rua

e do lado de dentro

a porta fica fechada também.


E quando a ira se for embora

e do lado de fora só estiver a porta da rua

eu vou abrir a porta da rua

e vou abrir a porta de dentro também.


apl in “Mentes Perversas” ©


sábado, 20 de junho de 2009

AMOR!


Julguei-me Rainha de mim

Livre, ousada, soberana.

Mas tudo é tão diferente

Quando a alma arde e sente

O fogo de quem nos ama!


E prostram-se todas a armas

Que pensamos erguer com ousadia.

Trocam-se as forças por um beijo

Transformam-se as vontades em desejo

Muda-se a vida por mais um dia!


E se alguém disser que é mentira

E que não existe tal ardor,

Nunca ousou ser livre e louco

Nunca trocou tudo por um pouco

De tudo aquilo que dá o Amor!


apl in “47 Poemas de Amor” ©


sexta-feira, 19 de junho de 2009

ELES VOLTAM!


isto é apenas

o presságio de um verso

um acesso de irritação

um acaso sem caso

um fantasma disperso


eles vêm sempre

como predadores

de garras secretas

destruidores

rondam a presa

para abordar


e voltam

e voltam

e voltam

para atacar


esses amantes

de ventres erectos

devassos, obscenos

impúdicos, abjectos

sem regra

sem lei

qual cio de animal


e voltam

e voltam

e voltam

como um chacal!


apl in “Mentes Perversas” ©


domingo, 14 de junho de 2009

ÀS SETE DA MANHÃ


Hoje deixei que a janela do meu quarto permanecesse quieta.

O silêncio das coisas termina para além daqueles vidros

onde a transparência se esconde atrás dum reposteiro.

Se a abrisse, talvez a calçada me lançasse em queixume

as maledicências que escutou às sete da manhã.

Não. Não vou ouvir. Não interessa ouvir falar

das coscuvilhices de que foi testemunha.

Vou permanece-la fechada por detrás da cortina

abafada no silêncio dum vidro que se tornou opaco.

Seria mais fácil ir apanhar ar. Deixar que as coisas

que não são naturais se tornassem naturais

e que a janela fechada se pudesse abrir

mesmo que fosse para escutar os queixumes da calçada.

E eu choraria com ela, porque essas coisas naturais

não passam de coisas que não são naturais,

mas existem como naturais, porque as pessoas as sentem naturais.


O sol é natural. A chuva é natural. Até a nortada

que me arrasta e desnorteia o pensamento, é natural.

O mar azul é natural, o mar cinzento é natural.

Até o mar verde que às sete da manhã se emerge

nos tons inigualáveis do nascente, é natural.

A vida deveria ser feita apenas de coisas naturais.

Seria mais fácil às sete da manhã abrir a janela

e cheirar o odor do canto dos pássaros, aspirar o prazer

com que o sol rompe cada pedaço da noite e a transforma.

É o ciclo natural da vida, tal como nascer e morrer.

Deveria ser natural abrir a janela às sete da manhã e deixar

que o silêncio do amanhecer inundasse o dia.

Mas às sete da manhã, ouço os queixumes da calçada.


E o mundo avança repleto de coisas que não são naturais

mas que aparecem como naturais, porque se querem com tal.

Mesmo os queixumes das pedras da calçada, que às sete da manhã

se reprimem para não contar as maledicências

que foram deixadas caídas nos seus pedaços!


apl in “Mentes Perversas” ©

domingo, 7 de junho de 2009

BOM SENSO


Nada temo na minha conduta. Não será perfeita. Mas quem atingiu a perfeição que a recrimine.
Caminho apenas com a convicção de que prefiro alhear-me das mentes insidiosas que calcam o mesmo chão que eu piso, consciente de que nada acrescentarão ao meu espírito, além de mediocridade.
Nada poderei contra os que não partilhem das minhas crenças e conceitos. Mas também nada farei para os demover da sua opinião. A liberdade de pensamento é sagrada, tal como são sagrados os Direitos Humanos.
É nesta base que rejo todas as minhas atitudes, mantendo-me céptica em relação ao futuro daqueles que se acham providos da certeza absoluta.
Procuro somente a verdade. O acto de duvidar é indubitável. Consequentemente, nada poderei acreditar, até que me possa ser provado.
E é nesta procura que continuarei a minha caminhada, enquanto a debilidade de pensamento não se apoderar das minhas fraquezas, e eu tiver lucidez e perseverança necessárias para que os meus conceitos sejam construídos com base nessa premissa.
E que Deus permita que o bom senso me acompanhe sempre!


O bom senso é a coisa mais bem distribuída do mundo: todos pensamos tê-lo em tal medida que até os mais difíceis de se contentar nas outras coisas não costumam desejar mais bom senso do que têm.”
( Renné Descartes)


ana paula lavado  ©

quarta-feira, 3 de junho de 2009

HISTÓRIAS DE ENCANTAR


Não há história
nesta história.
Morreu logo no prólogo,
antes do capítulo um
mesmo antes
do era uma vez!
Era uma vez
uma história com magia...
Como nos contos de fadas
com príncipes e princesas
e sapatinhos de cristal!
Com cenários do reino dourado
com tapetes voadores
lâmpadas de Aladino
e um monstro que não faz mal.
Com estrelas e um Sininho
uma Terra do Nunca
e até um Peter Pan...
Mas pensar nisso
é coisa vã.
Não que eu não soubesse
relatar toda a magia.
Mas o actor principal
desistiu do papel
logo antes do primeiro acto.
E sem actor...já não há peça.
Isso é um facto.
Troquemos então as voltas
e arranjemos outro actor.
Um daqueles que não desista
antes de o epilogo chegar.
E recomecemos a história
com reis, princesas
e sapatinhos de cristal,
o Sininho e o Peter Pan
e o monstro que não faz mal.
E que história comece
“Era uma vez
no reino de além-mar...
... e foram felizes para sempre!”
como nas histórias de encantar!


ana paula lavado in “Um Beijo… Sem Nome” ©


segunda-feira, 1 de junho de 2009

TUDO O QUE FUI... É NINGUÉM!





Quando eu morrer
não quero letras num epitáfio
nem lápide com inscrição.
Já nada mais farei
e o fiz, foi em vão.
A minha vida tem apenas dois momentos
o meu nascimento
e a minha morte.
Todo o resto foi casualidade
um intervalo efémero
sem pontualidade
e sem sorte.
E mesmo que algum momento
possa ter tido relevância
terá por qualquer acidente
perdido a sua importância.
Nada deixarei
que precise ser lembrado
ou guardado por alguém.
Já nada mais serei
e tudo o que fui
é ninguém!


apl in “Mentes Perversas” ©