quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

ERGO AS MÃOS




Ergo as mãos

Ergo as mãos a Deus e peço clemência
que nesta escravatura já muito pequei.
Sei que não sou límpida, sei que não sou pura
nos andarilhos das vielas por onde andei.
Não há pureza que se glorifique nesta humanidade
não há glória que não padeça de impunidade
não há rei nem lei que nos comande.
Sou produto da perversa infâmia
sou escrava da impiedosa maldição.
Não creio na verdade, não creio na razão
não creio na decência da grandiosidade
não creio na compostura de qualquer condição.

E em Ti, Deus, que ainda creio
rogo o ensinamento da verdade.
Já não me restam muitos futuros
e em todos sobeja ambiguidade.
Desapega-me da violência da hipocrisia
destrona os reis da dinastia
que fazem da ciência podridão.
Sei que não sou pura, não.
Mas antes de decretares o meu final
sacia-me a fome de verdade
sacia-me a procura da razão!

ana paula lavado © 

 (foto da internet)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

VOLTEI AO MAR




Voltei ao mar

Voltei ao mar
Porque nele me engrandeço

Na alga pura
Pouso a minha boca

Sente a minha boca
Molhada de sal

Que da tua boca trarei
O beijo que careço!

ana paula lavado © 

(foto da internet)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

PODEIS!




Podeis!

Podeis matar-me os pés
Se deles retirardes a carne e o sangue,
Podeis atar-me a mãos
Para que elas não verbalizem quaisquer paradoxos,
Podeis mutilar-me o corpo
Para que dele não expire qualquer sombra de glória,
Podeis retirar-me a tinta, a caneta, o papel,
Desmentir as minhas frases interditas
E rasgar a sombra da minha pele,
Podeis ocultar o meu vício de verdade,
Podeis negligenciar a minha força de vontade,
Podeis até dizer que não existe quem sou,

Mas jamais calareis o grito da minha voz
Jamais roubareis o caminho por onde vou!

ana paula lavado © 

pintura "el grito" de edvard munch

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

PALAVRAS




Palavras

Não te digo palavras infecundas, meu amor,
Que delas terás apenas prazer efémero.

Dou-te o silêncio das letras,
O gesto dócil das minhas mãos
Quando percorro o teu corpo
Em busca de alimento.

Será o tempo o escultor
Que me trará a felicidade dos dias.

E no prolongar dos dias
Dar-te-ei a fecundidade das palavras.

ana paula lavado © 


(foto da internet)

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

AS TUAS LETRAS




As tuas letras

O meu poema tem as tuas letras
E em cada uma o meu anseio.

Porque as dispo assim
Tão de repente?

Sabem a mar, quando as concebo
Sabem a amor, certamente.  

ana paula lavado © 

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

ÉS TANTAS VEZES O LENÇOL




És tantas vezes o lençol

És tantas vezes o lençol
Que cobre a nudez do meu seio
Que sinto, nas noites que não tenho
O lençol do teu corpo em anseio.

E os afagos! Ah os afagos
Com que arrendas a cor dos meus dedos
São palavras que murmuram na pele
Como as ondas dos nossos segredos.

E quando à noitinha me desnudo
E te entrego o meu corpo por inteiro
És tantas vezes o lençol
Que cobre a nudez do meu seio.

ana paula lavado ©