sexta-feira, 24 de abril de 2015

ÀS VEZES



Às vezes

Às vezes…

Às vezes, as portas fecham-se com áspera rudeza
e só o granito das ruas se move por companheiro.

Às vezes…

Às vezes, os sons perdem-se nas encruzilhadas
e o sentido das coisas é tão inverso
que deixa de haver sentido na verdade.
No tempo dos ausentes, o pensamento interrompe-se.
Adultera-se a mente com frases de circunstância
e faz-se da realidade um filho de um deus menor.

Às vezes…

Às vezes, os gestos metamorfoseiam-se
em outros gestos
absortos em interjeições imaginárias
e palavras caiadas por metáforas.
Não digam que há vida para além da noite
porque a madrugada só existe na invenção da mente.

Às vezes…

Às vezes, a transformação da verdade
é a única ponte existente entre o bem e o mal
e a razão para o mistério das coisas.

Às vezes…

Às vezes…

ana paula lavado © 


domingo, 19 de abril de 2015

A PORTA


A porta

Abro a porta
e nada vejo.

Nem a luz dum candeeiro
nem a sombra da neblina.

A porta é um vão
criado em contra-mão
desajustado da rotina.

Uma parede vazia
um retrato por pendurar
uma cama despida
uma nudez por amar.

Um silêncio amortecido
um ventre desalinhado
um verso destruído
um poema amordaçado.


ana paula lavado © 

Fotografia do google 

domingo, 5 de abril de 2015

FAZ DA MORTE UMA EXISTÊNCIA IMPEDIDA



Faz da morte uma existência impedida

Deixa que os olhos te digam a verdade
e não ocultes com trejeitos, o que o mundo roubou.
Não desvies as palavras em sentidos inversos
como se a vida apagasse toda a eternidade.
A eternidade levar-te-á os teus cansaços
porque a morte só acontece na multidão dos tempos.

Ah! Deixa os desalentos
e caminha como se o abismo não vivesse.
A vida é um rio que corre sem fronteiras
é um astro que vibra de todas as maneiras
é um chão que se apega e te torna imortal.

Vem! Estende os braços ao mundo e grita
faz do transtorno uma frase interdita
e sobe ao cume mais alto de todas as serranias.
É no teu íntimo que terás a imensidão dos dias
é na tua fome de verdade que alcançarás o infinito.

A vida é um gesto que se faz num só grito
numa só vontade, numa só firmeza, numa só paixão.
Vem! Estende os braços e agarra o mundo na tua mão
contorna o destino, agarra a vastidão da vida
e faz da morte uma existência impedida!

ana paula lavado ©