terça-feira, 28 de julho de 2009

SILÊNCIO FRIO


Foi porque decidi ser assim

Que as palavras depressa sucumbiram

Dissecadas e sem lamento.


Ah, se soubesses que não escrevo

Nem historio nem me atrevo

A descobrir o que quero dizer.


Despedaçam-se os fólios passados

Desmancham-se os passos traçados

Mata-se a vontade de viver.


Resta apenas este chão vazio

Mistura de vinho acre e mosto seco

Fel, vinagre, e pecados que eu peco

Sepulcro amordaçado em silêncio frio.


apl in “Mentes Perversas” ©


terça-feira, 21 de julho de 2009

UM PEDAÇO DE... MORTE


Um pedaço de mar
Um quebranto na foz
Uma voz a falar
Um silêncio atroz.

Uma maré que grita
Um sexto sentido
Uma mão aflita
Um suor já gemido.

Uma estrela que morre
Um luar perecido
Uma palavra que sorve
Um combate morrido.

Uma estrada que geia
Um passo em desacerto
Um trecho que medeia
Um poema incerto.

Uma voz que limita
Um destino sem norte
Uma alma que grita
Um pedaço de morte!

apl in “Mentes Perversas” ©


sexta-feira, 17 de julho de 2009

OS LIMOS

Talvez os limos do mar

Deixados pela maré preia

Escrevam letras no silêncio

Que o mar escondeu na areia.


E as conchas ao murmurarem

Palavras de amor escondidas

Deixem inscritas na areia

As nossas palavras estendidas.


E nessa areia corada a limos

Que o mar amou sem pudor

Ficou escrito o que sentimos

No silêncio do nosso Amor.


apl in “47 Poemas de Amor” ©

terça-feira, 14 de julho de 2009

ESSE FANTASMA


Esse fantasma necrófago nem sequer tirou o chapéu

antes de entrar.

Falta se simetria no nevoeiro tornou-o imperceptível

e ele escapuliu-se.

De qualquer modo, não deixou a rudeza de fora.

Marmóreo e vítreo.

Que arrepio!

Torná-lo insignificante talvez fosse a solução.

Ignorar, simplesmente

e a transparência apoderar-se-á da sua delimitação

que o cheiro ficará inolente.

Já não o sinto

já ninguém o sente!


apl in “Mentes Perversas” ©



sábado, 4 de julho de 2009

A INVENÇÃO DO AMOR



O Amor não é mais que uma invenção dos sentidos

onde inventamos as invenções do corpo e da mente.

Não é mais que um paradoxo.

Seria um cepticismo, se não fosse uma constatação.

Somos prodigiosos na invenção.

Inventamos o mar, as flores, o pôr-do-sol,

e uma enormidade de expressões quixotescas.

Ridículo!

Devaneios que deveriam ser eliminados à nascença.

Não…

Nem sequer deveriam ter tempo para nascer.

Matá-los numa fase embrionária seria o mais razoável.

Evitavam-se o parto da entrega e o fluir da ilusão.

Tudo seria mais inteligível.

Trocar-se-iam prazeres momentâneos

por outros prazeres de igual expressão

sem dádivas interiores.

Uma troca simples e concreta. Um negócio.

Um contrato isento de assinaturas e promessas.

Não haveria lugar à sensação de entrega

e subsequente perda de uma parte de si.


Uma invenção!

Exactamente igual à invenção do Amor!


apl in “47 Poemas de Amor” ©



quinta-feira, 2 de julho de 2009

OS BÚZIOS




Quando os búzios acordarem
Nessa praia junto ao mar
Talvez o sol não se levante
Com medo de os despertar.

Porque entre cada grão de areia
Que a maré vaza não molhou
Ficaram escondidos segredos
Que a maré preia acautelou.

E se o sol fulgisse cedo
Mais cedo que o próprio alvor
Até os búzios saberiam
Que nos amamos sem pudor.

ana paula lavado ©