quarta-feira, 6 de maio de 2015

POEMA-ME AS LETRAS




Poema-me as letras

As palavras já não existem,
meu amor.
Tivemo-las à tardinha
quando o encontro
era o princípio e o fim
de todas as coisas.
Agora,
é o silêncio que demora
a espera da morte
para que o dia e a noite
não se tornem iguais.

Poema-me as letras
meu amor,
poema-me as letras
e os fios de cabelo
que ficaram desalinhados.

No outro dia,
no dia em que a chuva
não parou de cair,
demorei-me no poente,
como se fosse aquele
em que o beijo
calava todas as palavras
e todas as palavras
se calavam no beijo.
Mas as palavras
estavam gastas,
meu amor.
Gastas como as letras
e como os fios de cabelo
que ficaram desalinhados.

Talvez outro dia,
à tardinha,
sem o princípio
e o fim de todas as coisas,
não sejam precisas mais palavras
nem mais poentes.

Poema-me as letras,
meu amor,
poema-me as letras
e os fios de cabelo
que ficaram desalinhados.

ana paula lavado ©