domingo, 16 de outubro de 2016

ESTA TRISTEZA TAMANHA



Esta tristeza tamanha

Ah, esta tristeza tamanha
que só a tristeza conhece,
esse frio de quem padece
da dor que só a dor entende,
esse amargo que destrói e prende
as dobras do sofrimento.

Neste caminho frio e lento
de sulcos cravados no peito,
nestas sílabas ditas com despeito
sem verso rimado por rancor,
neste fim onde se limita a dor
nem a existência se entranha.

Ah, esta tristeza tamanha
que só a tristeza entende,
esse frio que transcende
as asas do infinito,
esta solidão com que grito
esta tristeza tamanha!

ana paula lavado © 


quarta-feira, 12 de outubro de 2016

OS TRISTES



Os tristes

Dos tristes ninguém se importa.
Nem quem nunca os amou
nem quem eles amam em segredo.
Nem os pássaros, que por medo
não pousam nesse solitário beiral.

Dizem que a tristeza é passageira.
Não há tristes a vida inteira
não há melancolias por acabar.

E mesmo no Inverno mais frio
se o amor não for contigo

sê feliz só por amar!

ana paula lavado ©  

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

LUZ DIFUSA

Luz difusa

Vejo ao longe uma luz difusa
sobre o livro que não ousei ler.

Nas mãos as palavras maduras
gastas em solidão desnuda.

Se souberes em que Nordeste vagueio
chama por mim.

ana paula lavado ©  


O FOGO, MEU AMOR, JÁ MORREU


O fogo, meu amor, já morreu

Pesa, meu amor, pesa tanto
esta vontade de subir ao alto cume.
O amor sucumbiu em lento pranto
e o fogo sucumbiu em lento lume.

Não fora a flor que nasceu selvagem
antes que a Primavera lhe desse cor
e teria eu morrido na estiagem
e teria eu morrido, meu amor.

Olho agora as minhas mãos geladas
sem o lume que outrora as aqueceu
e tenho as cinzas mortas, acabadas

que o fogo, meu amor, o fogo já morreu! 


ana paula lavado © 


SINTO O MAR ONDE O MAR PERECEU


Sinto o mar onde o mar pereceu

Sinto o destino e as aves que voam
e o cais onde os barcos regressam do mar.
Sinto os rios que me invadem as palavras
sinto as vozes que morrem ao naufragar.

Sinto as palavras que me doem na alma
e os campos onde a Primavera já morreu.
Sinto o teu corpo ausente do meu corpo
sinto o mar onde o mar pereceu. 

ana paula lavado ©