domingo, 15 de março de 2015

NÃO HÁ MORTE SEM RESSURREIÇÃO



Não há morte sem ressurreição

Tantas horas o tempo leva
à volta da cidade indiferente.
E os passos e a gente
os fantasmas arrependidos
as palavras sem abrigos
os gestos degolados de comunhão!

Vire-se o mundo à exaustão
denunciem-se os descrentes
os falsos deuses ausentes
os corpos profanados sem glória.
Não há vida sem estória
não há morte sem ressurreição.

E quando um grito diz não
erguendo ventres de profecia
a luz da cidade silencia
a voz estóica do entendimento.
Olhai! Vê-de o sofrimento
dos que, mudos, gravitam nas ruas
de olhar esmagado, de lágrimas cruas
de saudades impossíveis de omitir.

Tantas horas o tempo pode parir
nos úteros prenhes de inglória.
Não há vida sem estória
não há morte sem ressurreição! 


ana paula lavado ©  

sexta-feira, 13 de março de 2015

AGARRO O TEMPO



Agarro o tempo

Agarro o tempo e penetro-o na pele
como lança em brasa por um fogo feiticeiro.
Hoje é o primeiro
o segundo, o nono
o infinito dos dias que transformo
e conjugo na palma das mãos.

Como um verso oblíquo e sem nexo
um ângulo agudo ou convexo
uma folha de papel por escrever.
Hoje é o primeiro
o segundo, o terceiro
o infinito dos dias, o feiticeiro
que a morte não consegue perverter!

ana paula lavado ©