domingo, 27 de março de 2016

A INQUIETAÇÃO DAS AVES



A inquietação das aves

Confesso que me atordoa a espiral dos dias
e a inquietação das aves em dia de tempestade.
O pensamento converge numa parábola irregular
e as mãos tornam-se inúteis perante a ferocidade alheia.

Temo duvidar das palavras premeditadas
e dos anjos de asas negras que me invadem o sossego.

Outrora, quando a luz era mais clara,
e a selva se limitava à irracionalidade das coisas,
a urgência dos gestos era terra úbere
e a virgindade dos seios nunca era violada.

Restam as ruas de travessia interdita
a incoerência dos dias casados de solidão
e a inquietação das aves, em dia de tempestade.

ana paula lavado ©


Fotografia - Francisco Navarro

segunda-feira, 21 de março de 2016

SÓ EU, E O RIO



Só eu, e o rio

Acabaram os abraços ao fim da tarde
Os enlaces das palavras, os desejos em desvario
Acabaram os silêncios de quem parte

Agora só eu
E o rio

E as margens cobertas de virgens inquietas
O leito, peregrino dos amores que partiram

Ao longe, talvez, perto da Foz
Onde pipilam as gaivotas em dia de calmaria
E se imergem os sonhos em hora de maré preia

Só eu
O rio
E a minha nudez de sereia.

ana paula lavado ©