terça-feira, 23 de fevereiro de 2021


 


Regresso a casa

 

Quando regresso a casa e aos ângulos escuros das trevas.

Espalho, a névoa que trago nas algibeiras, pelas mesas desertas

e pela poeira dos livros, cansados das noites de lentidão.

Deito o corpo, exausto dos dias iguais e das tonturas

das conversas inúteis e inutilíssimas.

Que sei eu desses afazeres mundanos e dos escândalos

e das leviandades alheias?

Se um dia a juventude voltasse, voaria junto

das aves marinhas, nas intermináveis águas do oceano,

no marulhar das ondas e dos peixes com asas.

Antes que eu grite, deixa-me contar-te como é sábio

o sussurrar do rio, quando me transpõe o sonho de ser água.

Regresso a casa. Tudo se confunde com o real,

e o imaginário permanece inerte, cansado de sombras

e névoas trazidas nas algibeiras.

Deito o corpo, já gasto dos dias iguais e dos papeis estampados,

nos espelhos, velhos e sujos, de rostos desfocados.

Regresso a casa.


ana paula lavado ©