quarta-feira, 25 de setembro de 2013

DAR-TE-EI




Dar-te-ei

Dá-me o sonho
Eu dar-te-ei as manhãs

Dá-me a boca
Eu dar-te-ei o desejo

Dá-me as mãos
Eu dar-te-ei o verso!

ana paula lavado © 


 Fotografia - Francisco Navarro

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

AQUI MORA O SILÊNCIO


Aqui mora o silêncio

Vêm bater à minha porta. Como se o batente
ruidoso acordasse a mente. As gentes não sabem
que não é assim que se acordam outras gentes? O solfejar
dos pássaros é mais sugestivo e encantador. Desperta-nos,
deslumbra-nos, e torna-nos mais férteis no pensamento.
Não batam à minha porta. Ela não tem culpa das vossas
irritações nem das vossas agonias.
Também não esperem que coloque um pássaro à minha porta.
Os pássaros nascem livres e viajantes, pousando apenas
onde o sossego os acolhe. E se pousarem à minha porta, é
porque ela é silente.
Não batam à minha porta, porque aqui mora o silêncio.

ana paula lavado © 

Fotografia - Francisco Navarro


quarta-feira, 11 de setembro de 2013

QUANDO AS ÁRVORES CRESCEREM V



Quando as árvores crescerem V

Não te alheies da realidade. Nem abandones
os teus instintos, que neles todos os terás mistérios.
E dos mistérios se faz a aventura dos dias.
Como seiva da tua pele, buscarás no amanhecer
da primavera, as águas que fortalecerão o teu corpo. Os dias
iluminar-se-ão, quando  as árvores crescerem e
florirem seus frutos no teu ventre.
De todos os dias, espero sempre o nascente, para que
amanheças no meu corpo, e a natureza se torne mais bela.
Dos outros dias, nada sei. Nem donde vêm nem para onde vão,
que apenas sei onde estou. E onde estou, adormeço contigo.

ana paula lavado © 


Fotografia - Francisco Navarro

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

QUANDO AS ÁRVORES CRESCEREM IV



Quando as árvores crescerem IV

Descubro-me ao tempo sem que a fadiga me procure.
De todos os dias, resguardo a saliva dos olhos
para que o mar não se inunde antes da maré preia.
Trago nas mãos as cãs dos anos nefastos, furtivas nas
acácias que floriram no tempo da virgindade.
Se um dia me procurarem, encontrar-me-ão entre as palavras
impossíveis de escrever ou nos amplexos ilegíveis das letras.
Nos múltiplos prolongamentos da vida, saciei a sede
das ideias no lugar dos solitários, sem que o
movimento alterasse a iteração dos sonhos.
Quando as árvores crescerem, trar-me-ão os diamantes
da tua boca, lapidados no segredo dos amantes.


ana paula lavado ©