segunda-feira, 18 de novembro de 2019

já nada sobra desta folha de papel




já nada sobra desta folha de papel

já nada sobra desta folha de papel
indiferente aos retratos dispersos pelas estantes da casa.
o corpo move-se longe das palavras
e escorre-me na pele o suor das noites desertas
e dos sonhos vazios que subitamente ardem em fogo lento.
ao acaso escolho um lugar vazio igual ao das outras noites
e tento adormecer entre as cassiopeias
e o ar marítimo das grandes travessias
que me deixa agonia na boca.

o silêncio desenha-se nas paredes brancas
e as raízes do orvalho descem pelas janelas
trazendo estrelas secretas que ocultam as marés.
já nada me prende a este barco
nem a estes espaços enevoados
nem às águas turvas que pernoitam no fundo do rio.
já nada sobra desta folha de papel
indiferente aos retratos dispersos pela casa.


ana paula lavado ©  

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