já
nada sobra desta folha de papel
já
nada sobra desta folha de papel
indiferente
aos retratos dispersos pelas estantes da casa.
o
corpo move-se longe das palavras
e
escorre-me na pele o suor das noites desertas
e
dos sonhos vazios que subitamente ardem em fogo lento.
ao
acaso escolho um lugar vazio igual ao das outras noites
e
tento adormecer entre as cassiopeias
e
o ar marítimo das grandes travessias
que
me deixa agonia na boca.
o
silêncio desenha-se nas paredes brancas
e
as raízes do orvalho descem pelas janelas
trazendo
estrelas secretas que ocultam as marés.
já
nada me prende a este barco
nem
a estes espaços enevoados
nem
às águas turvas que pernoitam no fundo do rio.
já
nada sobra desta folha de papel
indiferente
aos retratos dispersos pela casa.
ana
paula lavado ©