sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A VELHA RUA




A velha rua

Há na velha rua mil pedaços
Há segredos desvairados e cansaços
Um velho pedinte que reclama graça
Uma corda pendurada com desgraça.
Há portas velhas com batentes des-tintados
As vizinhas que conjuram maus-olhados
Há o hálito quente do bêbado da taberna
E a puta que levanta a saia e mostra a perna.

Há na velha rua mil razões
Dos que ficaram por não terem mais tostões
Daqueles a quem o mundo é uma janela
Que só vêem o que se passa através dela.
Há os velhos de quem a vida se esqueceu
Os famintos que fazem da noite cor de breu
Os pregões que morreram na calçada
E a vida para quem a vida não vale nada.

Há na velha rua mil fadigas
Que escondem a amargura das intrigas
Há o sorriso amargo do velho desdentado
O rosto amarelo que outrora foi rosado.
Há a noite que se prolonga todo o dia
A penumbra que dantes era alegria
O cheiro a podre que se desfaz em desgraça
E o desprezo de quem já não lhe acha graça.

ana paula lavado © 

(foto do google) 

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