A velha rua
Há na velha rua mil
pedaços
Há segredos
desvairados e cansaços
Um velho pedinte
que reclama graça
Uma corda pendurada
com desgraça.
Há portas velhas
com batentes des-tintados
As vizinhas que
conjuram maus-olhados
Há o hálito quente
do bêbado da taberna
E a puta que
levanta a saia e mostra a perna.
Há na velha rua mil
razões
Dos que ficaram por
não terem mais tostões
Daqueles a quem o
mundo é uma janela
Que só vêem o que
se passa através dela.
Há os velhos de
quem a vida se esqueceu
Os famintos que
fazem da noite cor de breu
Os pregões que
morreram na calçada
E a vida para quem
a vida não vale nada.
Há na velha rua mil
fadigas
Que escondem a
amargura das intrigas
Há o sorriso amargo
do velho desdentado
O rosto amarelo que
outrora foi rosado.
Há a noite que se
prolonga todo o dia
A penumbra que
dantes era alegria
O cheiro a podre que
se desfaz em desgraça
E o desprezo de
quem já não lhe acha graça.
ana paula lavado
©
(foto do google)
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