I
Ò rio
de pedras calejado
de penumbras açoitado
guardas a morte
em calabouços tenazes
onde os escombros fumegam
onde os túmulos de desapegam
onde tudo é má sorte.
II
E eis
onde o céu se abate
onde o ódio desperta
onde o rancor ilumina.
Porquê tão triste sina?
III
Que mais farei
se me ocultas
se me renegas
se me descarnas em dor!
Se transformas a luz em treva
se apodreces a alma
se só me dás desamor !
IV
Quantas noites
esperei que o aurorescer
iluminasse meus passos.
Sentimentos graníticos!
Só trazes lama
duma lava em chama
que só acende meus gritos.
V
Aguda labareda que queimaste
o fulgor de meus pulmões.
Num degredo árido
onde só o ódio desperta,
tornaste
a vida em lava de vulcões.
VI
Sucumbo à dor
em tua cripta
num arrepio tenaz
que dilacera a alma.
Gélida agonia
gélido tumulto
que me condenas ao teu sepulcro.
VII
Degredo que me levaste
e apodreceste em escuridão.
Lapidaste,
esculpiste em pedra escura.
Nem sálicos horrores
trariam tanta amargura.
VIII
E a noite
gélida e ácida de penumbras
ri e escarnece
enquanto a alma apodrece.
Nem a morte é tão fria
nem as lápides da agonia
pesam tanto no chão.
Incestuosa solidão!
IX
Ò rio
de pedras calejado
de penumbras açoitado
guardas a morte.
Em calabouços de pranto
em túmulos de desencanto
em destinos de má sorte.
apl in “Vozes do Vento” ©
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