quanta miséria, quanto
desgosto
ouvi.
ouvi todos os dias
a
mesma lenga-lenga sem nexo
o
discurso arbitrário e desconexo
as
mesmas palavras sem rectidão.
ouvi
gestos de prepotência
gritos
heróicos de violência
falsos
pudores por compaixão.
ergo
as mãos como quem reza
(que
eu não sei rezar)
e
alongo os dedos ao longo do rosto.
quanta
miséria, quanto desgosto.
ana
paula lavado ©
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