domingo, 30 de abril de 2017

HÁ EM MIM ALGUMA MORTE, QUANDO ESCREVO



Há em mim alguma morte, quando escrevo

Quem me dera esquecer aquele dia de chuva
ou aquela tarde de domingo em que todos passeavam alegres.
Debaixo do braço, uma sacola de memórias
aterroriza-me o tempo. Sinto saudades das coisas que já não tenho
e das tardes junto ao mar, ouvindo seres que me faziam rir.
Sinto saudades dos cabelos compridos, das mãos que namoravam
como se não houvesse tempo e dos lugares onde nunca estive.
Estou comigo como se não estivesse com ninguém. Desfolho as pétalas
de uma rosa contando o tempo que ainda terei para viver. E à volta da minha boca surgem gestos que não dizem nada.
Há em mim alguma morte, quando escrevo. As palavras sabem
a metáforas e a lugares onde não cabe o pensamento.
É impossível viver este tempo sem amargura. É impossível viver.

ana paula  lavado ©                                   

sábado, 22 de abril de 2017

AS SEREIAS



As sereias

Quando mudam as marés,
e os limos adormecem na areia,
as sereias entoam cânticos de sedução
chamando os homens ao seu encantamento.
E eles partem.
Uns com redes preenchidas de esperança
outros com desejos plenos de fantasia.
Nas águas, revoltas de mistérios,
a lucidez dos dias
embala os navios que se fizeram ao mar
antes que a noite se oculte em segredos.
Partem para longe, os homens da faina,
e os outros homens partem também.
E as sereias, enfeitiçadas pelos limos,
encantam os homens que navegam nas marés.

ana paula  lavado ©                         

segunda-feira, 17 de abril de 2017

AS MÃOS



As mãos

Aperto as tuas mãos como se fosse
perdê-las entre os veios das minhas
e na ausência que a distância consente
guardo nas mãos as mãos das tuas linhas.

E quando o Sol se guarda no poente
antes que a noite desperte e se conceba
aperto as tuas mãos dentro das minhas
amando sem que a noite se aperceba.

ana paula  lavado ©                   

quarta-feira, 12 de abril de 2017

É AMOR





É amor

A manhã abriu em pluma
Leve e suave como as rosas

É amor

E as árvores crescem lentamente
Dentro da seiva das montanhas

É amor

E amo.


ana paula  lavado ©                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                     

terça-feira, 11 de abril de 2017

O RIO QUE ARDE



O rio que arde

já não sei se choro
já não sei se vivo
já não sei se morro.

tenho as mãos fechadas
vazias de nadas
cheias de solidão.

e o rio que arde
sonha-me quando parte
leva-me no coração.

ana paula lavado ©                 

domingo, 2 de abril de 2017

SUFRÁGIO DA MORTE


Sufrágio da morte

No sufrágio da morte,
perante a plateia de eleitores,
a tua alma inquietada
não tem nada.
Só um desejo insano
uma vontade velada
mais nada.

És um herói
sem causa nenhuma
uma lacuna
um fosso entre a realidade e a ficção.
És um fraco
uma indecência da vida
uma incoerência
uma discrepância
uma anulação.

E na altura do voto
gritas pleno de vontade:
“esta não é a minha hora!
Olhai a verdade,
preciso de tempo
preciso de alento
preciso demonstrar
que sou herói”.

Não tens nada a temer.

Oh vontade primeira!
Neste sufrágio não queres vencer!


ana paula lavado ©