terça-feira, 1 de setembro de 2020

Já não te faço falta


Já não te faço falta


Quando nos encontrávamos, naquela Linha quatro,

rodeados de rostos indiferentes e bagagens,

e  abraços de saudade que inundavam o cais,

o nosso abraço era mais forte, do que todos os outros abraços.

Agora, já não te faço falta. As tuas mãos, cálidas, já não pousam

no meu corpo, nem os versos entoam cânticos aos deuses.

Ainda tenho as folhas de papel, algumas que restam das

cartas que te escrevia, enquanto esperava o encontro 

na Linha quatro, mas, inevitavelmente, estão a ficar

amarelecidas, como as folhas do Outono.

As luzes da cidade continuam a iluminar os corpos

que vagueiam sem destino, alheias ao corpo

que pertence à minha alma.

Quando agora saio na Linha quatro, encontro outros abraços, que contemplo, com um gosto amargo na boca. 

Vou andando nas ruas da cidade, vou escrevendo folhas

de papel, mas já não entoo cânticos aos deuses. 

Eles não precisam de mim, 

e eu já não te faço falta!


ana paula lavado ©

4 comentários:

  1. Fazes falta, à poesia, e ao amor que está na porta do fim do apego e a alegria de abrir a alma à oportunidade.

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  2. É bom, quando alguém sente que fazemos falta.
    Obrigada, meu querido amigo. Também tu me farás sempre falta!

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  3. Um poema brilhante.
    Parabéns pelo talento que as suas palavras revelam.
    Bom fim de semana.
    E um Feliz Natal, extensível à família.
    Beijo.

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    Respostas
    1. Muito obrigada Jaime, pelas suas palavras e pelos votos de Feliz Natal, que retribuo.
      Um beijo.

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