Ninguém
Estavas lá, à minha espera,
sentado num banco de jardim
igual aos que havia
antigamente.
Folheavas um jornal,
daqueles que trazem as
notícias de ontem,
com fotografias de gente
importante,
de assassinos e burlões.
A tua atenção era discreta
e o teu olhar vagaroso.
Imaginei-te poeta,
pela serenidade dos gestos,
ou filósofo, pela maneira
como observavas o jardim.
Sentei-me ao longe,
num outro banco, semelhante
ao que havias escolhido,
para te ler os jeitos e as
paixões.
Os pássaros voavam em teu
redor, sem medo,
e as folhas das árvores
dançavam delicadamente
como se lhes tocasses uma
sinfonia.
Podias ser músico,
pela delicadeza das mãos,
ou pintor, pela maneira como
acariciavas o papel.
Folheavas o jornal tão
vagarosamente
como quem
tem a vida por eternidade.
Caminhei
pelos passeios de terra já gasta,
cansados
dos passos de gentes anónimas,
que amam
os pássaros, as árvores e as flores,
e que os
percorrem
à procura
daqueles bancos de jardim iguais aos de antigamente.
Caminhei
pelos passeios de terra já gasta
até ao teu
banco de jardim e,
olhando-te
nos olhos, perguntei “Quem és?”.
Sorriste,
acariciaste-me a face e,
sem que o mistério
abandonasse o teu olhar,
disseste “Sou
ninguém!”
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