sábado, 3 de janeiro de 2015

CONVOQUEM A GUERRA



Convoquem a guerra

Convoquem a guerra
iniciem a batalha
que a minha raiva
ainda agora começou.
Não foram os ventos que trouxeram tempestade.
Foi o sangue que ferveu
foi a lava que derreteu
foi o fogo que devastou fora do leito.
Hoje começa a era ressuscitada
escalavrada de boas maneiras
fora do contexto prosaico da cortesia.

- há quem diga que isto não é poesia -

Chamem-lhe outro nome qualquer.
Uma coisa
um objecto
um abjecto
um palavrão.

- há quem diga que isto é libertação -

Um dia tive uma Kalashnikov encostada ao peito
bem apontada ao lado esquerdo
e não falei.
Também não morri
também não matei
também não me mataram
também não mandaram matar
- me -.

- há quem diga que só se morre uma vez -

A guerra começou!
Tragam as canetas
as ferramentas
as tintas
os pincéis,
os palavrões carregados de decibéis
as frases anacrónicas da Literatura.

Eu levo as palavras escabrosas,
- que as outras não têm compostura -
as metáforas sem lisura
as interjeições que não vêm na gramática.

- há quem diga que mexo nas letras com prática -

E vamos à guerra
e vamos à batalha
e vamos à luta
que a verdade há-de vencer!


ana paula lavado © 


4 comentários:

  1. Adoro esta força, este grito de revolta! Excelente! Muito grata por esta e outras pérolas a que tenho tido acesso! Beijos.

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  2. Magnífico, Poeta! Acabei de o declamar com muito êxito!

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    1. Quanta honra. Como é bom, sentir-me amada pela poesia.
      Obrigada, Jorge Manuel!

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