«Há uma questão
incontornável - Em nós, mandamos nós.»
Atingir esse
estádio, não é fácil. Aprendemos à nascença a sermos amparados e comandados,
enquanto a absorção do que nos rodeia se vai tornando clara e realista. Crescer
é quase um acto heróico, uma batalha em que temos que comandar o instinto, a
vontade e os ensinamentos adquiridos. A vitória é alcançada no momento em que a
nossa personalidade se vinca e podemos passar a ser donos do nosso Eu.
Será que nesse
momento mandamos totalmente em nós?
O Homem é um animal
de matilha. Não consegue viver isolado do clã que vai criando ao longo da vida.
E mesmo sendo o chefe da matilha, as suas decisões e vontades estão sujeitas
aos outros membros. Mesmo expressando a sua vontade, ela terá de ser maleável
em função da vontade dos outros membros do grupo. E sendo dono de si, terá de
ceder na sua vontade, para que haja consenso entre todas as partes.
Erradamente, cedemos
em demasia. Alheamo-nos da nossa vontade e da nossa independência, em função do
clã, que pensamos ser o ideal. Faz-se tudo em prol da matilha, para que ela
cresça saudável e perfeita. A vida vai sendo delineada de acordo com as
necessidades dos membros mais novos, e o objectivo é criar um mundo perfeito, à
dimensão do nosso sonho. E sem nos apercebermos, vamos abdicando de nós em
função da felicidade dos outros.
Estupidamente,
deixamos que isso aconteça, pensando sempre no bem-estar da matilha, na sua
protecção e na sua defesa. E quando o mundo se desmorona, urge juntar todos os
pedaços, que mais não são, do que um ponto de partida para a sobrevivência.
Conseguir ter
lucidez suficiente para nos apercebermos atempadamente, é quase uma segunda
vitória. Conseguir inverter os factos é atingir a plenitude de si, e então
passar a ser na realidade dono do seu EU.
A vida é uma
sucessão de batalhas que todos os dias temos que enfrentar e lutar para vencer.
Muitas se perdem, talvez por não se agir da forma correcta e no momento certo.
Mas outras há, que se vencem com actos de heroicidade, o que faz com que metade
do nosso Eu se sinta verdadeiramente orgulhoso.
Acomodamo-nos, mas
nunca nos adaptamos. É impossível conviver com a hipocrisia, os falsos pudores,
os falsos moralistas ou a falsas amizades. Tudo se põe à venda e tudo pode ser
comprado ao maior ou menor preço. É inexequível conceber a mesquinhez e desdém
com que se fala dos outros, sem a preocupação primeira de se olhar para dentro
de si.
É possível que somente
a loucura nos mantenha mentalmente sãos. A loucura de nos deixar levar pelo impulso,
e não pelas «leis» da sociedade.
A única lei que
vigorará terá de ser a da nossa consciência. E apenas assim se conquistará o
ponto mais almejado do ser humano:
O NOSSO EU!