Poema-me as letras
As
palavras já não existem,
meu
amor.
Tivemo-las
à tardinha
quando
o encontro
era
o princípio e o fim
de
todas as coisas.
Agora,
é
o silêncio que demora
a
espera da morte
para
que o dia e a noite
não
se tornem iguais.
Poema-me
as letras
meu
amor,
poema-me
as letras
e
os fios de cabelo
que
ficaram desalinhados.
No
outro dia,
no
dia em que a chuva
não
parou de cair,
demorei-me
no poente,
como
se fosse aquele
em
que o beijo
calava
todas as palavras
e
todas as palavras
se
calavam no beijo.
Mas
as palavras
estavam
gastas,
meu
amor.
Gastas
como as letras
e
como os fios de cabelo
que
ficaram desalinhados.
Talvez
outro dia,
à
tardinha,
sem
o princípio
e
o fim de todas as coisas,
não
sejam precisas mais palavras
nem
mais poentes.
Poema-me
as letras,
meu
amor,
poema-me
as letras
e
os fios de cabelo
que
ficaram desalinhados.
ana
paula lavado ©