terça-feira, 27 de junho de 2017

O LUGAR ONDE HAVIA ÁRVORES




O lugar onde havia árvores

Regressas subitamente ao lugar onde terminaram as árvores.
Já não falo nem digo coisas que seriam um completo disparate
mas que são coisas que me afligem e me condenam
à inquietude do meu pensamento. Refugio-me nos livros
e nas coisas banais que me ocupam o tempo
para que não se dissipem os sorrisos e as palavras
que preencheram o lugar onde havia árvores.

Tudo é possível quando escrevo um poema. As letras ocupam
os espaços que ficaram vazios e vão deixando um misto
de pureza e quietude, que me lembra a quietude dos teus passos.
O resto do tempo não passa de um lugar vazio
sem alma e sem cor, em que se vai imaginando
mais um poema para que não se acabem as árvores.
Imagino o tamanho da solidão quando acabarem as árvores.


ana paula lavado ©

domingo, 11 de junho de 2017

JUNTO À PEDRARIA DA CALÇADA



Junto à pedraria da calçada

Junto à pedraria da calçada,
cinza agreste de granito velho,
um fio de geada enfrenta o silêncio
diluído na bruma.

A cidade,
lentamente vestida de negro,
acorda os frenéticos do sexo,
ávidos de orgasmos.

E o cheiro dos corpos suados,
invade a noite e as luzes ferrugentas da rua.

Num suspiro, a noite morre
e a pedraria da calçada,
cinza agreste de granito velho,
dilui-se num fio de geada.

ana paula  lavado ©                            

domingo, 4 de junho de 2017

JÁ NÃO REGRESSO AOS DIAS EM QUE ME AMAVAS!


Já não regresso aos dias em que me amavas!

É inútil a terra onde desbravo as memórias.
Do teu incógnito sorriso, tenho o amargo dos dias
em que o teu incógnito sorriso não me sorri.
E da terra lenta que não frutifica as flores,
a saliva amarga das palavras que não pronuncio.

É inútil o pensamento que me encarcera.
Das tuas diminutas palavras, tenho a inquietação dos dias
em que as tuas diminutas palavras não me falam.
E da terra estéril que não produz a seiva
o fel dos dias que não produzem memórias.

Já não regresso aos dias em que me amavas!


ana paula  lavado ©