sábado, 20 de agosto de 2016

DIZ-ME! POSSO SER-ME DENTRO DA TUA SAUDADE?



Diz-me! Posso ser-me dentro da tua saudade?

Peguei-lhe na mão dizendo:
“Posso ser-me dentro da tua saudade?”
E abracei-o, com o afecto de quem nasce
todos os dias uma outra vez.
A minha mão continuou pousada
na mão dele
como se o mundo terminasse amanhã.

Sonhei o tempo das acácias rubras
das virgindades da adolescência
e dos pés descalços na terra molhada,
das auroras nas montanhas
e dos poentes no oceano,
das águas cálidas e meigas
e dos rumores nocturnos
dos animais que nunca dormem.

Sonhei o tempo dos amores vadios
das paixões efémeras
e das noites prolongadas pela manhã,
dos dias pintados de muitas cores
e das chuvas a molhar a face.

A minha mão continuou pousada
na mão dele
num abraço que sente saudades diferentes.

“Diz-me! Posso ser-me dentro da tua saudade?”

ana paula lavado © 


terça-feira, 9 de agosto de 2016

PRECISO DE TEMPO



Preciso de tempo

porque estamos mortos?

o poeta morre-se no palco
enquanto as letras permanecem vivas

a presença dos homens é apenas um verbo

a princípio eram todos pecadores

agora todos são santos:
Senhor, tem piedade dos santos não pecadores
que deles será o reino dos céus

o silêncio é mortal
e a presença das palavras é uma vertigem

vertigem, é a ansiedade
de uma rua suspensa de memória

a memória é uma tarde romântica
sem humildade no fim do mundo

no fim do mundo
há o princípio de todos os tempos

tempo
preciso de tempo
e não tenho tempo.

ana paula lavado ©

 fotografia do google