terça-feira, 29 de abril de 2014

FALA-ME AGORA. NÃO DEPOIS!



Fala-me agora. Não depois!

Fala-me da lucidez das coisas
Dos ventres que pariram as crenças mais terrenas
E dos sois que aclaram as palavras que não mentem.

Fala-me agora. Não depois!

Depois, até a dor se cansa das horas agoirentas
E a espera é sorrateira na demora.

Fala-me agora. Não depois!

Antes que mate os sonhos que não existem
No momento impreciso da concepção.
Chama-lhe o que quiseres
Desde que não te refugies na teimosia
E chames às coisas fruto da cegueira.

Fala-me agora. Não depois!

Depois, o tempo já é invernoso e triste
E as ideias tornam-se pouco claras à luz do dia.
As sombras reclamam rituais metafóricos
Na imanência redentora da morte.

Fala-me agora. Não depois!


ana paula lavado © 

Fotografia - Francisco Navarro


quinta-feira, 3 de abril de 2014

QUANDO AS ÁRVORES CRESCEREM VII



Quando as árvores crescerem VII

Repetem-se palavras desde a infinitude
dos tempos, sem que se alterem pontuações
aos sentimentos. Os caminhos cruzam-se
em todas as profecias, sacrificando a vontade dos
deuses perante a abundância da vontade dos Homens.
Erguem-se altares de sacrifício na euforia
da sobrevivência, esbracejando a um qualquer deus
mortal, a ironia da imortalidade.
O espectáculo é surrealista e o palco, transformado
em turba, exibe uma profusão de progenitores da
ferocidade.
Não bastará o tempo para apagar os instintos
mais ancestrais, nem bastará a aparência para
ocultar o selvagismo. Os olhos esventrados na
imperfeição, prestam culto ao deserto das coisas.
Quando as árvores crescerem, talvez renasça a 
esperança do mundo, e a serpente volte ao Paraíso.


ana paula lavado ©  

Fotografia - Francisco Navarro