quarta-feira, 7 de agosto de 2013

QUANDO AS ÁRVORES CRESCEREM



Quando as árvores crescerem

Não olhes para mim, que eu vagueio pelas ruas
desde que germinei. Os tempos modernos apenas
alteram as plantas, silenciando a cadência
das palavras. Explicar-te-ia as minhas escolhas
mas as pedras da rua continuam fascinantemente
iguais às de outrora. Duras e retorcidas em feldspato de rocha
metamórfica.
Quando as árvores crescerem, colherei as pétalas dos seus
frutos, e delas construirei os mais belos caprichos. Saberás
conhecê-los pelo meu perfume. Esse, que também
se mantém inalterável, não porque o tempo nada mais
tenha concebido, mas porque o  pretendo inalterado.
Lembro o dia que te conheci. Lembro tão repetidamente, que 
apenas não me sufoca, porque o faço com deliberação. 
Choquei-te de frente, na porta de uma estação com um nome
sem importância. Importou a vergonha dos olhos
que esconderam o rubor.
E se me olhares, relembro o rubor. Ama-me apenas
pelo perfume dos meus olhos!

ana paula lavado © 


 Fotografia - Francisco Navarro

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