quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O MEU POEMA SEM NOME



O meu Poema sem Nome

De que nos serve, na quarta à noite,
naquele bar de artistas,
confundirmos a personagem
e tomarmos para nós
o papel principal!
Nem a solidão nos abandona sem deixar recado,
nem as palavras que são ditas
com coragem ou com despudor,
nos alheiam da nossa memória.
Os olhares vagueiam,
os rostos transfiguram-se,
distraídos do cansaço
ou submersos num copo de agonia!
Esquecem-se as vontades e as dores,
enquanto a noite
se prolonga e desajusta da hora marcada.
O silêncio absorve-nos, arrebata-nos
e alheia-nos da verdade.
Só a solidão se senta a nosso lado e nos provoca.
Sorri, maldosa e incomplacente,
e vai-nos enchendo
o copo vazio com outra dor.
Mas a alma permanece intacta.
Resiste estoicamente,
trazendo dentro de si mais uma poesia sem nome,
dolorosa ou sem pudor,
que vai enchendo de ouro
um qualquer papel amarrotado
onde se escreve
um qualquer poema sem nome!

ana paula lavado in UM BEIJO...SEM NOME, Corpos Editora, 2008

(aguarela de Henrique do Vale)

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