quarta-feira, 13 de maio de 2009

SOTURNO


I

Ò rio
de pedras calejado
de penumbras açoitado
guardas a morte
em calabouços tenazes
onde os escombros fumegam
onde os túmulos de desapegam
onde tudo é má sorte.

II

E eis
onde o céu se abate
onde o ódio desperta
onde o rancor ilumina.

Porquê tão triste sina?


III

Que mais farei
se me ocultas
se me renegas
se me descarnas em dor!

Se transformas a luz em treva
se apodreces a alma
se só me dás desamor !


IV

Quantas noites
esperei que o aurorescer
iluminasse meus passos.

Sentimentos graníticos!
Só trazes lama
duma lava em chama
que só acende meus gritos.


V

Aguda labareda que queimaste
o fulgor de meus pulmões.
Num degredo árido
onde só o ódio desperta,
tornaste
a vida em lava de vulcões.


VI

Sucumbo à dor
em tua cripta
num arrepio tenaz
que dilacera a alma.

Gélida agonia
gélido tumulto
que me condenas ao teu sepulcro.

VII

Degredo que me levaste
e apodreceste em escuridão.
Lapidaste,
esculpiste em pedra escura.
Nem sálicos horrores
trariam tanta amargura.


VIII

E a noite
gélida e ácida de penumbras
ri e escarnece
enquanto a alma apodrece.

Nem a morte é tão fria
nem as lápides da agonia
pesam tanto no chão.

Incestuosa solidão!


IX

Ò rio
de pedras calejado
de penumbras açoitado
guardas a morte.
Em calabouços de pranto
em túmulos de desencanto
em destinos de má sorte.


apl in “Vozes do Vento” ©

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